Pedro Angelo da Silva, integrante do Programa Escola Verde (PEV), e sua família, Marivaldo Moura, Mauro Moura e Marcos Antônio, realizam, no Sítio Tio Nozinho, no distrito de Poço de Fora (Curaçá-BA), um processo muito interessante de compostagem com nativas da Caatinga. O composto orgânico é meticulosamente elaborado com técnica e organização no Projeto Sertão Verde (@projeto__sertao_verde). Pedro se dispôs a nos explicar, em detalhes, como se dá o processo de compostagem realizado no sítio, bem como seus desafios do início ao fim.
A compostagem é um processo biológico no qual microorganismos e animais invertebrados transformam matéria orgânica (borra de café, cascas de ovo e frutas, por exemplo) em uma substância homogênea, com aspecto de terra e cheiro de floresta: o adubo. Este serve para enriquecer solos pobres em nutrientes, aumentar a capacidade de absorção das plantas, tornar o solo mais aerado e reduzir a erosão, bem como fertilizar vasos e canteiros.
Segundo Pedro, quando realizado (a compostagem) utilizando-se como matéria-prima elementos nativos da Caatinga, é preciso fazer uso de técnicas de manejo para garantir, de forma contínua, as quantidades necessárias para produção, respeitando disponibilidades e o fornecimento de alimentos aos animais silvestres do bioma, assim como sem interferir nas atividades econômicas desenvolvidas na região.
Ele dividiu a explicação em 4 etapas, falando sobre os tipos de matéria-prima, as formas de coleta, as metodologias que envolvem sustentabilidade, os aspectos práticos de manejo dos materiais, a irrigação, o monitoramento, a aeração e, por fim, o empacotamento para venda.
ETAPA 1: os tipos de matéria-prima, as formas de coleta e metodologias para sustentabilidade da Caatinga
Para que o resultado final do composto orgânico seja satisfatório, é necessário equilibrar o uso da matéria orgânica seca com a úmida. Assim os macros e micronutrientes, estarão presentes de forma harmoniosa e suficientes. As técnicas de coleta da matéria-prima devem seguir protocolos para evitar riscos de morte por inanição, de arbustivas principalmente. No caso das Caraibeiras, somente as folhas secas; já no Pinhão-Bravo, a poda deve ser transversal, para evitar o apodrecimento. O esterco é essencial no processo, porque contém elementos químicos indispensáveis às plantas. No caso específico da Quipá-de-Espinhos, ajuda a manter controlada a população, já que pode ser considerada uma invasora indesejável em áreas de pastagem.
A coleta das nativas demoram algumas horas no meio da Caatinga em busca da matéria-prima para o processo. Os desafios enfrentados nessa etapa é a presença de insetos e animais silvestres, além de plantas venenosas, que podem interferir na podagem das nativas.
ETAPA 2: envolvimento dos materiais, trituração, pesagem e uso da lona
Além do esterco caprino, toda matéria-prima disponibilizada, deve ser triturada em partículas menores para facilitar a decomposição e aumentar índice de aproveitamento. Com exceção dos resíduos orgânicos domésticos (teor de água alto) e da Quipá-de-espinhos (submersa em água + solução biológica, para retirada dos espinhos), os demais podem ser triturados. A pesagem de todo o material deve ser de no máximo 70 dias.
O uso da lona deve ser em casos específicos, como a desaceleração do processo por excessos de água das chuvas, se a estrutura da produção não tiver cobertura. A lona eleva a temperatura ambiente da compostagem, e consequentemente a presença de vida microbiana. É preciso acompanhar o seu tempo de uso, para não compactar muito o material, e assim reduzir o oxigênio (essencial para aeração).
Os desafios enfrentados são os dias chuvosos e com pouca quantidade de esterco, assim como animais eventualmente rasgando a lona. Toda essa etapa dura algumas semanas.
ETAPA 3: a irrigação do composto, monitoramento de temperatura, aeração, retrituração e peneiração
Deve-se manter o teor de umidade adequado através da irrigação, essencial para a boa qualidade do produto. A água é um regulador de temperatura e a peça-chave de todo o processo, do primeiro até o último dia. A quantidade a ser utilizada vai depender do tipo de matéria-prima utilizada, se mais rígida ou mais úmida.
O monitoramento de temperatura é importante, por ser um indicador de como está o andamento, a periodicidade de medição é semanal. Temperaturas muito elevadas, precisa de atenção redobrada.
Na aeração (revolvimento) do composto, os intervalos devem ser de, no máximo, 15 dias. Isso para garantir a presença de microrganismos no material. A retrituração e peneiração podem acontecer simultaneamente, com isso o ganho de tempo é maior. Os principais objetivos da retrituração e peneiração, são o aproveitamento e a retirada de impurezas.
Algumas dificuldades nesse momento é a necessidade de monitoramento de mais dias para chegar a temperatura ideal do composto e a necessidade de mais água irrigada dependendo da matéria-prima utilizada. Essa etapa também dura algumas semanas.
ETAPA 4: empacotamento, venda e entrega
Nesta última etapa é preciso garantir que o produto esteja livre totalmente de impurezas em um armazenamento seguro, para evitar qualquer alteração de qualidade.
O empacotamento pode ser concluído em alguns dias. A venda tem sido feita com pacotes de 5 kg ou à granel no próprio sítio. Alguns desafios são os custos de gasolina e frete, assim como cuidados na conservação.
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Por Pedro Angelo da Silva e Yan de Castro
Categoria: Compostagem
Fontes: Projeto Sertão Verde (@projeto__sertao_verde), Associação Caatinga (site)