CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES EM EA AINDA É UM PROBLEMA, APONTA ESTUDO

O Programa Escola Verde realizou pesquisa com professores da Educação Básica de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), durante o 1º semestre de 2018, afim de identificar os principais problemas enfrentados por eles no desenvolvimento da Educação Ambiental (EA).

A falta de capacitação para trabalhar adequadamente as temáticas socioambientais nas escolas foi um dos principais gargalos apontados pelos educadores pesquisados, os quais também destacaram problemas como carência de material didático apropriado, escassez de projetos permanentes sobre conteúdos socioambientais e a rara ou inutilização total dos laboratórios de informática, dentre outras questões.

Realizado de Fevereiro a Julho deste ano, a pesquisa científica aplicou 56 questionários junto a 56 professores de 17 unidades de ensino público municipal e estadual dos dois municípios. O PEV também questionou educadores de Senhor do Bonfim, mas, neste último caso, em apenas duas escolas ligadas à Prefeitura. Em respeito aos princípios da Ética em Pesquisa, foi garantido o anonimato dos professores e das escolas.

A pesquisa do tipo Survey, foi desenvolvida a partir de uma amostra não-probabilística das escolas dos municípios. Como critério de inclusão, foram selecionados professores da ativa, sem requisitos de idade, tempo de serviço, áreas do conhecimento ou disciplinas ministradas.

ANÁLISE DOS DADOS

Um aspecto muito importante apresentado na pesquisa vem da resposta esmagadora dos professores ao afirmarem que há mais de um ano não participam de capacitação na temática ambiental. Do número de educadores questionados, 40% são das escolas estaduais e 62% das municipais de Juazeiro; enquanto que, em Petrolina, esses valores chegam a 80% (estado) e 82% (município). Já entres os educadores municipais de Senhor do Bonfim, 50% confirmam o problema.

Talvez devido a esta situação, os professores pesquisados divergem sobre a percepção de estarem capacitados ou não para desenvolver ações de Educação Ambiental, com 80% dos educadores estaduais e 38% dos municipais de Juazeiro afirmando que apenas “as vezes” se sentem preparados sobre os conteúdos. Percentuais, no entanto, maiores do que em Petrolina, cujas incertezas atingem 20% e 18%, respectivamente. Entre os docentes municipais de Senhor do Bonfim, o número é de 17%.

Por outro lado, 20% dos professores estaduais e 24% dos municipais de Juazeiro, que responderam à pesquisa, declaram também que a falta de recursos didáticos apropriados e contextualizados à região, fator que dificulta o desenvolvimento da EA junto aos alunos. Em Petrolina, resposta semelhante foi ratificada por 60% (estadual) e 22% (municipal) dos educadores. Quanto aos professores de Senhor do Bonfim, 32% assinalaram a falta de material didático como problema central da carência da EA.

40% dos docentes estaduais e 55% dos professores municipais juazeirenses informaram que as escolas não possuem projetos permanente de Educação Ambiental em seus currículos e Projetos Pedagógicos. Dados superiores inclusive aos de Petrolina, cujos percentuais são de 50% e 32% respectivamente. Outros 50% dos educadores municipais de Senhor do Bonfim também se referiram a esta carência nas escolas.

A pesquisa também apresentou dados sobre a forma como a EA é inserida pelos professores junto aos alunos. De acordo com a investigação, apenas para cerca 40% dos professores estaduais pesquisados de Juazeiro o tema é inserido de maneira direta, através de projetos e conscientização. Também para 40% dos educadores municipais de Juazeiro, a EA é trabalhada de forma direta, por meio de aulas específicas sobre o assunto.

Já 30% dos docentes das escolas estaduais em Petrolina afirmam que desenvolvem temas ambientais de forma indireta, através de notícias e informações repassadas casualmente. Enquanto outros 27% dos professores do município pernambucano dizem que inserem o conteúdo de maneira direta, por meio de projetos e atividades. No município de Senhor do Bonfim, 32% dos pesquisados responderam inserir a temática de forma indireta, através de conversas ou textos.

Os dados expõem ainda que muitas das Salas de Informática das unidades de ensino encontram-se desativadas ou não são percebidas em atividade pelos professores. De acordo com 80% das respostas vindas dos professores do estado em Juazeiro; 50% vindas dos educadores estaduais de Petrolina e outros 36% vindos dos docentes deste município pernambucano as salas de informatica estão desativadas ou não existem. Em Senhor do Bonfim, 50% dos professores pesquisados informaram que não fazem uso ou a sala está desativada. Apenas nos colégios municipais de Juazeiro ocorreu uma percepção diferente, pois 86% dos professores informaram que utilizaram ou observaram que estes espaços estão ativos.

CONSIDERAÇÕES

Com base neste estudo, foi possível concluir que os desafios para desenvolver a Educação Ambiental nas escolas públicas são grandes, crônicos, e possuem múltiplas causas, que vão desde a falta de programas de capacitação dos professores nos temas socioambientais, carência de material didático, inexistência de projetos permanentes de EA, dentre outros problemas pedagógicos, acadêmicos, curriculares e metodológicos.

Cabe ressaltar que a superação destas problemáticas passa necessariamente pela valorização e capacitação dos professores e investimentos nas escolas.

Os problemas identificados nesta pesquisa corroboram com outras pesquisas que vêem sendo desenvolvidas pelo Programa Escola Verde nas escolas públicas do Vale do São Francisco. Problemas que são comuns a várias instituições de ensino, possivelmente de outras regiões do país também.

Esperamos que esta pesquisa possa servir para auto-reflexão dos professores envolvidos, bem como instigar e auxiliar de alguma maneira no desenvolvimento de políticas públicas mais apropriadas para a mudança deste quadro.

Confira alguns gráficos

Por Jacó Viana